Um relacionamento que se prolongou por duas décadas transformou-se em uma situação de abusos devido a uma intensa perseguição que uma das partes vinha enfrentando. O matrimônio, que antes era repleto de felicidade e gerou uma filha que hoje tem 15 anos, agora se tornou um verdadeiro pesadelo para uma mulher que tem sido alvo de ataques, ofensas e violência psicológica — configurando o crime de stalking.
O caso envolve três indivíduos: um homem, sua ex-esposa, que é a vítima, e uma terceira mulher, que foi amante do homem. Esta amante é denunciada como responsável pelas ameaças e pela perseguição. Com o início das investigações, a identidade de todos os envolvidos será mantida em sigilo.
Como tudo começou
Em uma entrevista, a mulher afetada relatou que iniciou um relacionamento com o homem há cerca de 20 anos. No meio de 2021, ela optou por se separar, suspeitando de infidelidade. Dois anos depois, em 2023, houve uma tentativa de reconciliação, mas a partir daquele momento, a situação se agravou, e ainda persiste.
"Em junho de 2023, tentamos reatar, mas a partir daí, meu inferno começou por causa dessa mulher que me persegue até hoje", conta a mulher. A mulher mencionada é a suspeita de envolvimento nos crimes e havia sido amante do marido da vítima anteriormente à sua primeira separação.
Em 2023, as agressões virtuais começaram. "Ela me liga de vários números distintos, não faço ideia de como conseguiu isso. Descobriu meu endereço e costuma passar frequentemente na porta de casa. Até conseguiu o contato da minha filha e anda enviando mensagens para ela", diz a vítima. "Em função de tudo isso, minha filha não consegue dormir direito e só vai para a escola porque a estamos forçando."
A mulher perseguidora relembra um incidente: "Eu possuía um quiosque de roupas infantis em um shopping, e em julho de 2023, ela apareceu lá fingindo ser cliente. Eu precisei atendê-la para evitar um tumulto".
"Você tá fudida"
A mulher possui registros de chamadas e mensagens que evidenciam as incessantes tentativas de contato. As ofensas são, em sua maioria, extremamente agressivas. Em fevereiro deste ano, por exemplo, a suspeita enviou um áudio chamando a vítima de "piranha safada" e a acusando de ter relações com delegados de polícia.
"Bruxa do 71, não tenho medo de boletins de ocorrência. Faça 1 mil, 2 mil [boletins], quantos você quiser, sua piranha, safada. Anda se deitando com delegados, com machos casados e até com vizinhos", bradava a ofensora.
"Não adianta correr para a delegacia, fazer seu showzinho, registrar ocorrências, se insinuar para delegado. Você está fudida na vida. Você vai cair, vai adoecer. Você é uma pombagira", diz a agressora.
Os ataques se realizam sempre via mensagens, uma vez que a vítima não atende mais as ligações. Ela recebe centenas de tentativas por semana, conforme evidenciam algumas provas.
A autora das mensagens, que foi amante do homem envolvido, também tenta prejudicar a imagem do pai da filha da vítima. "Seu pai é um mentiroso, pilantra, estelionatário", diz a suspeita.
A situação, que se arrasta há mais de um ano, deixa a vítima desesperada. "Ela me persegue dia após dia. Não há um momento de paz. Ela acompanha as redes sociais dos amigos da minha filha, familiares, amigas, cabeleireira e manicure", aponta.
"Não consigo mais suportar. Estou vendo minha filha sofrer, com medo de ir à escola e ser alvo de piadas, já que seus amigos questionam se o pai dela realmente está sendo procurado pela polícia", desabafa, emocionada. A garota chegou a chorar ao perceber as investidas da suspeita.
A aparente impunidade da autora angustia a vítima. "Ela mesma afirma que posso registrar quantos boletins de ocorrência quiser. Os ataques não cessam", lamenta. "É preciso compreender como ela consegue tantos números diferentes, como obteve o contato da minha filha e como teve acesso à minha moradia… são dados pessoais", questiona.
“Nada do que está ocorrendo é justo para mim e para minha filha. Desejo resolver isso de uma vez por todas. Até quando continuaremos vivendo com medo e sofrendo situações constrangedoras?”, protesta.
A mulher refuta que tenha tentado contatar a amante em algum momento. "Nunca procurei ela. Não saberia da existência dela se não tivesse vindo atrás de mim", afirma.
Quanto ao relacionamento com seu ex-marido, a mulher considera que mantêm uma relação amigável. "Mantemos contato por causa da nossa filha e buscamos uma boa convivência. Nosso divórcio está em processo", explica. No entanto, ela revela que o ex-marido conheceu a acusadora ainda durante o casamento e não sabe se eles continuam juntos. "Isso me incomoda, mas ele também já registrou uma ocorrência contra ela".
Audiência marcada
A polícia do local está investigando o caso. A mulher fez um boletim de ocorrência em 2024, e a 5ª Delegacia de Polícia informou que está averiguando as denúncias.
Além disso, há uma audiência marcada para o dia 18 de junho deste ano no Judiciário.
O que fazer em casos assim?
A polícia também oferece orientações sobre o crime de stalking. "Esse ato de perseguição está descrito no Art. 147-A do Código Penal. Ele acontece quando alguém, de forma repetitiva, ameaça a integridade física ou psicológica de outrem, restringindo sua liberdade ou invadindo sua privacidade". A pena para este crime varia entre 6 meses a 2 anos de prisão, além de multa.
De acordo com as autoridades, é recomendável que a vítima de perseguição:
- Armazene mensagens, e-mails, chamadas, registros, etc.
- Busque apoio em amigos e familiares. "Se houver risco iminente, procure instituições de defesa ou um advogado".
- Evite qualquer tipo de contato com o perseguidor.
- Faça um boletim de ocorrência em uma delegacia.
- Não divulgue informações pessoais, como rotina, endereço e contatos.
- Se necessário, solicite medidas protetivas. "Se houver risco, o juiz pode determinar que o agressor mantenha distância e não tenha contato com a vítima".
Caso a vítima se sinta ameaçada ou em perigo imediato, deve acionar a polícia local.