Após o feriado de Carnaval, a questão dos preços dos alimentos, que se tornou uma das principais preocupações do governo neste ano, retorna à pauta com o presidente Lula. Nesta quinta-feira (6), está agendada uma reunião com ministros das áreas relevantes – Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, e Carlos Fávaro, da Agricultura –, além de membros da equipe econômica para abordar essa questão.
A valorização dos alimentos tem contribuído significativamente para a inflação nos últimos meses. Como esse aumento afeta diretamente a população de menor renda, o governo Lula destacou essa questão como fundamental para reverter a queda em sua popularidade.
Uma pesquisa realizada pela Genial/Quaest, divulgada em 26 de fevereiro, revelou que mais de 90% da população em oito estados brasileiros percebeu a alta dos preços dos alimentos no último mês.
Desde o começo do ano, o presidente tem promovido reuniões para discutir alternativas para essa situação. Em uma entrevista ao ICL Notícias, no mês passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mencionou que uma das estratégias a ser considerada é a criação de “planos safras cada vez mais robustos”.
O aumento nos preços dos alimentos foi um dos fatores que levaram o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) a ultrapassar o limite da meta estabelecida pelo Banco Central no ano passado, que era de 4,5%. O índice de inflação fechou 2024 em 4,83%.
Além disso, a inflação alimentícia no Brasil se posicionou como a quarta maior entre os principais países da América Latina em 2024, ficando atrás apenas da Argentina (94,7%), da Venezuela (21,9%) e da Bolívia (15,4%), segundo uma pesquisa da agência de classificação de risco Austin Rating. Esta alta é em grande parte atribuída a fatores climáticos e ao contexto internacional, como a valorização do dólar.
Entretanto, é relevante destacar que a inflação dos alimentos nos primeiros dois anos do governo Lula foi aproximadamente metade da que foi observada no mesmo período da administração do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Durante o governo Bolsonaro, a alimentação aumentou em média 8,24% por ano. Já nos primeiros anos da gestão de Lula, a média de aumento anual foi de 4,36%, o que representa uma redução de 47% nesse índice.
A safra deve ser recorde e pode auxiliar na estabilização dos preços dos alimentos
No dia 24 de fevereiro, o governo Lula anunciou uma medida provisória que autoriza a destinação de R$ 4,18 bilhões em crédito extraordinário para o Plano Safra deste ano. Esses recursos garantirão a continuidade do programa, que estava suspenso devido à não aprovação do Orçamento de 2025, ainda em tramitação no Congresso. O texto deverá ser avaliado pela Comissão Mista do Orçamento no dia 11 de março.
Conforme informações publicadas por Míriam Leitão, em O Globo, o governo enfrenta limitações para reduzir os preços dos alimentos, além de poder tomar apenas algumas medidas pontuais.
De acordo com os dados, empresários já sinalizam que a nova safra será recorde, o que irá minimizar a pressão sobre os preços. Especialistas também afirmam que as piores condições climáticas e os impactos da valorização do dólar, que afetaram a oferta e encareceram a produção, já ficaram para trás.
Diante disso, a reflexão do governo Lula em dialogar com o setor para buscar soluções é vista como um aspecto positivo, pois amplia o leque de informações disponíveis. A colaboração entre todos pode levar a uma compreensão mais adequada do problema.
Impactos da política internacional
Outro aspecto a ser levado em conta é a guerra comercial conduzida pelo governo de Donald Trump, que pode desorganizar o comércio global.
A partir de 20 de janeiro, quando assumiu a presidência, Trump começou a implementar tarifas sobre vários produtos importados de importantes parceiros comerciais, como China, Canadá e México, e o Brasil também pode ser afetado. Nesse sentido, o vice-presidente e ministro do MDIC (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Geraldo Alckmin, deverá realizar uma reunião virtual com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, no dia 7 de março à tarde.
Por outro lado, essa guerra comercial pode criar oportunidades temporárias para produtos brasileiros, especialmente do setor agrícola.
No entanto, os efeitos disso sobre os preços dos alimentos de maneira geral devem ser limitados. Itens como café e laranja continuarão com valores elevados, enquanto a carne apresentou uma leve queda, mas não deve retornar aos níveis observados em 2023.
