Uma denúncia do Ministério Público de São Paulo apontou que Netinho de Paula, cantor e ex-vereador, realizava empréstimos com o agiota Ademir Pereira de Andrade, que está associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
De acordo com informações obtidas pela TV Globo, um total de 12 pessoas foi denunciado, incluindo Ademir e oito policiais civis, por envolvimento com a facção criminosa, além de crimes como lavagem de dinheiro, tráfico e corrupção.
A apuração está relacionada a Vinicius Gritzbach, um delator do PCC que foi assassinado no ano anterior. Embora Netinho não esteja sendo investigado diretamente, seu nome foi mencionado nas denúncias.
Investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) revelaram que Ademir atuava como financeiro para a facção e era tratado como “Banco da gente” pelo cantor de pagode.
O MP obteve registros de conversas entre Netinho e Ademir que demonstram a prática de empréstimos abusivos. Essas comunicações foram coletadas após a quebra do sigilo telefônico do agiota, cujo celular foi apreendido pela polícia.
Em uma das mensagens trocadas, Netinho se referia ao pagamento de um empréstimo de R$ 500 mil e outro de R$ 2 milhões, assegurando a Ademir que pagaria os juros conforme sua capacidade financeira.
Além disso, um trecho da denúncia indicou que havia uma articulação entre o operador financeiro do PCC e o cantor, visando beneficiar líderes criminosos que estão encarcerados na Penitenciária Federal de Mossoró (RN).
Entre julho e agosto de 2023, Netinho e Ademir discutiam um encontro com uma “pessoa amiga”, cuja identidade não foi revelada em sua totalidade.
O cantor também compartilhou anexos que continham dados sobre inspeções do Ministério dos Direitos Humanos em presídios e uma visita técnica da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, para investigar alegadas violações de direitos humanos na penitenciária mencionada.
Em declarações ao Portal Leo Dias, Netinho afirmou que conhece Ademir há cerca de oito anos e que este é seu fã. Também comentou que já foi contratado para se apresentar para Ademir e admite ter realizado algumas operações financeiras com ele.
O cantor expressou sua surpresa ao tomar conhecimento da relação de Ademir com a facção criminosa. A defesa de Netinho está sendo contatada para comentários sobre o caso.
De acordo com a apuração do Gaeco, os 12 acusados estão sendo investigados por trabalharem em conjunto com o PCC, utilizando a estrutura estatal para favorecer atividades da facção.
Além da denúncia, o MP requisitou que os envolvidos paguem pelo menos R$ 40 milhões, em função do “dano gerado pelos crimes”, além de compensação por dano moral coletivo e dano social.
O documento revelou a existência de um esquema criminoso que envolve policiais civis e empresários, que operavam dentro da estrutura do Estado para obter vantagens ilegalmente. O MP alegou que delegados e investigadores formaram uma parceria com criminosos para transformar a Polícia Civil em um instrumento de enriquecimento ilícito e proteção ao crime organizado.
O esquema em questão não se limitava apenas à corrupção e lavagem de dinheiro, pois os indivíduos envolvidos também praticavam tráfico de drogas, homicídios e sequestros. Um caso notório mencionado na denúncia foi o assassinato do empresário Antônio Vinícius Gritzbach, que foi morto a tiros em plena luz do dia no Aeroporto de Guarulhos, o que colocou em risco a segurança de diversas pessoas.
Conforme o documento, Vinícius Gritzbach havia delatado algumas das pessoas denunciadas.
Agora, cabe à Justiça de São Paulo decidir se aceita ou não a denúncia apresentada pelo Ministério Público contra os réus, para que as investigações possam prosseguir.