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UnB Revela Choque no Campus: Nova Ferramenta Expõe Estrangeiros na Academia!

por James Joshua

Em busca de aprendizado ou fugindo de conflitos e regimes autoritários, atualmente, 976 estudantes e docentes estrangeiros estão na Universidade de Brasília. Esse levantamento é resultado da nova plataforma DataMigra, desenvolvida pelo Observatório das Migrações Internacionais e pela Secretaria de Assuntos Internacionais da universidade.

De acordo com a professora de Línguas Estrangeiras Aplicadas e coordenadora da Cátedra Sérgio Vieira de Mello, ligada à Agência da ONU para Refugiados, Susana Martínez, essa plataforma poderá contribuir para melhorar o acolhimento de imigrantes e refugiados. A educadora, natural da Espanha, ressalta que esses indivíduos enfrentam desafios como barreiras linguísticas, preconceitos e frequentemente desconhecem os direitos que possuem no Brasil.

Martínez observou que existem cursos que possuem trajetórias de acolhimento mais amigáveis, enquanto outros deixam a desejar. Muitos estrangeiros relatam experiências positivas, enquanto outros enfrentam dificuldades. A linguagem se destaca como uma das principais barreiras. Além disso, Martínez coordena o projeto Mobilang, que investiga fenômenos linguísticos decorrentes das mobilidades humanas, questionando a noção de fronteira sob uma perspectiva sociolinguística.

O Mobilang também oferece suporte de intérpretes para estrangeiros, abrangendo não apenas a comunidade da UnB, mas todo o Brasil. “Em tempos em que discursos anti-imigração estão se intensificando, o Brasil possui uma lei que garante direitos aos imigrantes. É encorajador ver ações que visam combater esses discursos. Precisamos de uma abordagem mais humanizada para ajudar aqueles que precisam deixar seus países”, enfatizou.

Atualmente, a UnB abriga cerca de 561 alunos refugiados e imigrantes. Os principais países de origem desses estudantes incluem Colômbia, Cuba, Peru, Moçambique, França, Angola, Argentina, Haiti, Guiné e Bolívia. Em termos de corpo docente, são 415 professores, sendo a Colômbia, Argentina, Itália, Estados Unidos, Peru, Espanha, Alemanha, França, Cuba e Portugal as nacionalidades mais presentes.

A haitiana Kenderloude Simeon, estudante do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação, está cursando Enfermagem na UnB e acredita que o modelo de acolhimento da universidade precisa ser aprimorado. Segundo ela, seria importante que os alunos internacionais fossem apresentados à comunidade acadêmica, pois demorou um ano para se apresentar aos colegas de turma. “O acolhimento que recebi deixou a desejar”, afirmou.

Ela também apontou que alguns cursos têm poucos alunos internacionais, o que pode resultar em isolamento. Kenderloude sugeriu um maior contato entre os estudantes do PEC-G e a Secretaria de Assuntos Internacionais, que representa esses alunos na UnB. “Atualmente, não temos contato algum com a INT, e não é por falta de vontade”, diz.

“Enfrentamos diversas barreiras, sendo a linguística a mais significativa, especialmente no início da graduação. Apesar dos desafios, Kenderloude é apaixonada por estudar na UnB. “Para mim, isso é um sonho realizado. Por isso, tento focar nas coisas boas, mesmo diante das dificuldades. Estudar aqui me traz muita alegria. O que sou hoje devo à UnB”, concluiu.

Roheen Naz, nascida no Paquistão, estuda Odontologia na UnB e considera estar no campus uma realização de um sonho. Ela optou por mudar de curso devido às dificuldades financeiras encontradas para adquirir os materiais didáticos exigidos. “Odontologia é uma graduação muito cara. Ao ingressar, pensei que tudo seria gratuito, pois é uma universidade federal. Em outros lugares, as coisas são diferentes. Preciso desembolsar R$ 6 mil. Se não tiver esse valor, perco a matrícula. Desisti devido à situação financeira”, lamentou.

Ela revelou que planeja transferir-se para Relações Internacionais e defende que os alunos estrangeiros deveriam receber informações detalhadas sobre os cursos e possíveis gastos antes do início das aulas. Segundo Roheen, a barreira linguística também impacta o desempenho nas avaliações, e ela sugere um sistema em que os alunos possam escolher a língua das provas. “Muitos alunos internacionais não estão cientes dos benefícios a que têm direito. É fundamental melhorar a comunicação para informar melhor os estudantes”, destacou.

Elisha Rani, também do Paquistão e estudante de Relações Internacionais, compartilhou sua experiência. “Cheguei ao Brasil com 10 anos e estudei aqui até o ensino fundamental. A interação com colegas e professores está sendo excelente. O ambiente é muito acolhedor e multicultural, e entrar na UnB mudou a minha vida. No Paquistão, as universidades geralmente são pagas. Aqui, não teria essa chance”, disse.

De acordo com Elisha, a UnB promove programas e projetos de extensão para ajudar na integração dos estrangeiros, incluindo suporte para resolver questões burocráticas. Ela sugere que mais iniciativas de integração sejam implementadas, como dias de exposições culturais onde imigrantes possam apresentar suas culturas. Em seu futuro, espera trabalhar em embaixadas e em projetos voltados para apoiar imigrantes e direitos humanos.

Elisha critica o aumento dos discursos anti-imigração que vêm sendo observados em diversos países. “Esse discurso elitista ignora a própria história de colonização. É uma postura que vai na contramão das leis humanitárias. O direito de migrar é fundamental”, refletiu.

O coordenador geral do Observatório das Migrações Internacionais destacou que a UnB exerce um papel essencial na produção de conhecimento científico voltado para os desafios sociais atuais. Através da ferramenta DataMigra BI, pesquisadores e gestores têm acesso a um banco de dados interativo e atualizado sobre migrantes e refugiados na universidade.

Segundo ele, o levantamento possibilita um planejamento institucional mais eficaz para o acolhimento dessa população, permitindo que políticas sejam desenvolvidas com base em dados concretos. Para a comunidade acadêmica, isso abre oportunidades de pesquisa interdisciplinar, ampliando os estudos sobre migração e educação no Brasil. Para os migrantes e refugiados, essa iniciativa fortalece sua visibilidade e assegura que suas necessidades sejam reconhecidas nas políticas educacionais da universidade.

Ao tornar esses dados acessíveis, contribui-se não apenas para a melhoria institucional da UnB, mas também para o desenvolvimento de políticas públicas em âmbito nacional. Entre os desafios já identificados, chama a atenção a necessidade de ampliar políticas voltadas para a permanência dos estudantes, garantindo condições adequadas não apenas para o acesso à universidade, mas também para a conclusão de seus cursos.

Entre os desafios identificados estão:

– Programas específicos de moradia e alimentação, considerando as dificuldades que estudantes imigrantes enfrentam para alugar imóveis, muitas vezes devido à exigência de fiadores ou comprovação de renda formal, que eles não têm.

– Ampliação de oportunidades de estágio, bolsas de pesquisa e programas de extensão, como alternativa para garantir a subsistência e o engajamento acadêmico, considerando que estudantes imigrantes não podem trabalhar formalmente no país.

– Suporte jurídico e institucional para facilitar o acesso a direitos básicos e orientação sobre regularização migratória, uma vez que muitos estudantes desconhecem ou enfrentam barreiras para acessar benefícios disponíveis.

– Oferta de suporte psicossocial e redes de apoio acadêmico, tendo em vista que a adaptação a um novo país e a um novo sistema educacional pode gerar desafios emocionais e acadêmicos.

– Nos casos de refugiados, a situação é ainda mais complicada, pois muitos chegam sem documentação acadêmica completa. A UnB pode avançar na aceitação de documentos e na validação de diplomas, garantindo que a burocracia não se torne um obstáculo ao direito à educação.

Fonte: Noticia Internacional

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