Os Estados Unidos divulgaram, nesta terça-feira (25), que tanto a Rússia quanto a Ucrânia concordaram em evitar ataques no Mar Negro, representando um passo inicial nas negociações que estão sendo realizadas na Arábia Saudita em busca de uma solução para o conflito em andamento.
Os dois países se comprometeram a “assegurar a segurança da navegação, eliminar o uso da força e impedir que embarcações comerciais sejam utilizadas para fins militares no Mar Negro”, conforme anunciado pela Casa Branca. As declarações fornecem detalhes das conversas que ocorreram nos últimos dias entre representantes da Ucrânia e da Rússia na Arábia Saudita.
Os Estados Unidos reafirmaram seu compromisso de apoiar a Ucrânia, focando em esforços relacionados à troca de prisioneiros, à libertação de civis e ao retorno de crianças ucranianas que foram deslocadas.
A Rússia, que enfrenta múltiplas sanções, poderá contar com o respaldo dos Estados Unidos para “restaurar o acesso” ao mercado global de exportação de produtos agrícolas e fertilizantes, além de buscar a redução nos custos de seguros marítimos e a melhoria do acesso aos portos e sistemas de pagamentos para tais transações.
Moscou condicionou seu apoio ao acordo sobre o Mar Negro à flexibilização das restrições sobre suas exportações agrícolas. Durante as negociações, os Estados Unidos enfatizaram que o presidente Trump está determinado a “encerrar os massacres de ambos os lados do conflito”, considerando isso um passo essencial para a obtenção de uma paz duradoura.
Nesse sentido, as partes envolvidas pretendem “continuar facilitando as negociações entre os dois países para alcançar uma solução pacífica”, de acordo com um trecho semelhante nos comunicados emitidos.
O presidente ucraniano, Volodmir Zelensky, comentou que “é prematuro afirmar que (o acordo) será eficaz”, mas ressaltou que é “uma iniciativa positiva”. Zelensky também indicou que tanto a Ucrânia quanto os Estados Unidos reconhecem que países “terceiros”, como a Turquia, poderão ter um papel de supervisão em potenciais acordos de trégua.
“Alguém da Europa ou, por exemplo, a Turquia, pode se envolver na situação marítima, e talvez um representante do Oriente Médio no que diz respeito à energia”, declarou o presidente a jornalistas.
O ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, solicitou de imediato “consultas técnicas adicionais” para discutir os “detalhes” dos acordos anunciados. Ele também advertiu que qualquer movimentação de embarcações de guerra russas no Mar Negro diante da costa da Ucrânia seria considerada uma “violações” do acordo sobre o cessar das hostilidades.
De julho de 2022 a julho de 2023, um acordo havia permitido à Ucrânia exportar grãos, mesmo com a presença da frota russa na região. No entanto, Moscou decidiu se retirar do acordo após um ano, alegando que os países ocidentais não cumpriram os compromissos de suavizar as sanções às suas exportações de produtos agrícolas e fertilizantes.
Nesta terça-feira, o Kremlin afirmou que ainda está “analisando” os resultados das negociações. Apesar disso, comunicou que as “interações” com os EUA continuarão, embora não tenha sido determinada uma data “específica” para uma nova conversa, conforme informou o porta-voz Dmitri Peskov.
Kiev acusou a Rússia de usar o tempo a seu favor para obter vantagens no campo de batalha. O senador russo Grigori Karasin, um dos negociadores, destacou que o diálogo com os americanos foi “intenso, desafiador, mas bastante útil”.
“É claro que ainda estamos longe de resolver todas as questões, de entrar em consenso sobre todos os pontos, mas parece que esse tipo de debate é muito pertinente”, comentou Karasin, que representou Moscou junto com Serguei Beseda, um oficial da Inteligência russa. “Seguiremos dialogando, incluindo a comunidade internacional, em particular as Nações Unidas e alguns países”, acrescentou.
Nesta terça-feira, novos encontros entre representantes da Ucrânia e dos Estados Unidos também ocorreram em Riad. Com essas negociações, o objetivo dos americanos era buscar uma trégua parcial no conflito que começou em fevereiro de 2022 com a invasão russa da Ucrânia, ou chegar a um acordo sobre uma moratória em certos ataques.
Trump, sob pressão, conseguiu que Kiev aceitasse um cessar-fogo incondicional de 30 dias. No entanto, Vladimir Putin, mantendo cautela ao abordar o líder americano, impôs uma série de exigências e afirmou que uma trégua deveria ser limitada aos ataques contra infraestruturas energéticas.
Apesar de ter mostrado certa tolerância à Rússia, Trump, nas últimas semanas, levantou a hipótese de novas sanções. Enquanto isso, Vladimir Putin, que cujas tropas continuam avançando no território, não parece apressar-se para alcançar um acordo, a menos que as forças ucranianas sejam expelidas da região frontaliza russa de Kursk. O troca de acusações de ataques entre russos e ucranianos prossegue.
Na segunda-feira, um ataque russo resultou em ferimentos a 101 pessoas, incluindo 23 crianças, na cidade de Sumy, no nordeste da Ucrânia, segundo as autoridades locais. Ao mesmo tempo, o Exército russo informou que havia conquistado duas localidades no sul e no leste do país.