Ao divulgar, nesta semana, severos cortes em seu orçamento destinado à ajuda humanitária e ao desenvolvimento, o governo dos Estados Unidos gerou grande inquietação na comunidade humanitária, o que pode acarretar consequências graves para milhões de pessoas.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, manifestou sua preocupação e alertou o governo americano sobre o que descreveu como “efeitos devastadores” desses cortes, afirmando que eles vão de encontro aos interesses dos próprios Estados Unidos.
O governo de Donald Trump anunciou cortes significativos na ajuda internacional americana, incluindo uma redução de 92% nos recursos destinados a programas da agência de desenvolvimento dos Estados Unidos. Até então, os Estados Unidos eram reconhecidos como o maior doador mundial em ajuda humanitária e ao desenvolvimento.
Em 20 de janeiro, Trump assinou um decreto que interrompeu a ajuda externa por 90 dias, para avaliar sua conformidade com a nova política que o governo planejava implementar. Contudo, desde então, a administração Trump tem enfraquecido a USAID, levando funcionários a crer que uma revisão adequada dos programas nunca foi realmente considerada.
“Essas medidas são ilegais, onerosas, ineficazes e comprometem a segurança nacional”, lamentaram senadores do partido democrata em uma carta enviada ao secretário de Estado, Marco Rubio, pedindo explicações a respeito.
O Comitê Internacional de Resgate (IRC), que administra programas voltados para refugiados, declarou que o fim do financiamento representa “um golpe devastador” para os beneficiários. “Essas pessoas dependem dos serviços financiados pelos EUA para a sua sobrevivência”, enfatizou o diretor da organização, David Miliband, ressaltando que 39 programas de assistência foram cancelados.
Miliband expressou preocupação particular com o impacto das reduções em nações como Sudão, Iémen e Síria, que abrigam milhões de civis inocentes afetados por conflitos e desastres naturais.
A ONG francesa Ação contra a Fome também anunciou a necessidade de fechar 50 iniciativas em 20 países, destacando que, no início do ano, mais de 30% do seu financiamento global provenia dos Estados Unidos.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) está avaliando as repercussões da diminuição da ajuda humanitária americana e salientou que milhões de crianças já estão sentindo os efeitos, especialmente no Haiti.
“Recebemos avisos sobre a interrupção de subsídios ao Unicef, que abrangem tanto programas humanitários quanto de desenvolvimento”, afirmou o porta-voz da organização, James Elder.
A pesquisadora Linda-Gail Bekker, diretora da Fundação Desmond Tutu, advertiu que mais de meio milhão de pessoas poderá falecer de Aids caso os fundos americanos sejam cortados por dez anos, prevendo um “desastre imenso”.
“Não é aceitável simplesmente interromper tudo de uma vez. É necessário assegurar uma transição adequada, caso contrário, as pessoas serão prejudicadas, as organizações poderão não conseguir retornar a esses países e as leis serão infringidas”, ressaltou hoje o ex-funcionário da USAID Atul Gawande.