A personagem em destaque nesta semana é Gleisi Helena Hoffmann. Ela assumiu o cargo de ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República em meio a um clima de desconfiança e ceticismo — tanto no âmbito do campo progressista quanto fora dele.
Durante a discussão no nosso “ICL 2ª edição”, expressei uma certa frustração, considerando que poderia ser um erro político por parte da administração de Lula III. Fui levado pela mesma narrativa dos veículos de imprensa que reclamam da falta de novidades no governo. Uma avaliação impulsiva, como a de um consumidor ansioso por invenções fúteis do mercado, ou melhor, do supermercado.
A ex-presidenta do PT foi considerada muito abrasiva e reticente em negociações com o Centrão, grupo do qual o governo depende para aprovar qualquer matéria no Congresso. A galega — como é chamada pelos políticos nordestinos —, em apenas cinco dias, fez questão de provar que essas afirmações eram meras lendas urbanas ou fantasmas criados nos amplos espaços projetados por Niemeyer.
Na verdade, o que estava em jogo era apenas o típico machismo latino-americano. Leandro Demori, durante uma conversa no “ICL 1ª edição”, destacou a raiz da misoginia presente nessas críticas. Uma mulher, como Gleisi, é rotulada de agressiva e rude; enquanto, quando se fala de um homem, como o ministro Rui Costa, a descrição é que ele é apenas difícil no trato político, por exemplo. “Eles tucanaram a grosseria”, ironizou Demori, “no caso dos homens”.
Da mesma lógica machista, de certa forma, surgiu a tentativa de humor por parte de Lula ao mencionar que escolheu uma “mulher bonita” para estreitar a relação com o presidente do Senado (Davi Alcolumbre) e o presidente da Câmara (Hugo Motta).
No entanto, na fala da oposição bolsonarista, a questão se transformou em um verdadeiro escândalo que poderia envergonhar figuras como Jece Valadão e Carlos Imperial — que podem ser novos para quem procura no Google, mas antes precisamos abordar o infame contemporâneo chamado Gustavo Gayer, do PL, é claro, de Goiás.
O parlamentar atingiu níveis baixos, ao afirmar nas redes sociais que Alcolumbre, Gleisi e o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) formariam um “trisal”.
Recebeu uma resposta justa e merecida de Lindbergh: “Vocês sabem quem é Gustavo Gayer? Ele cometeu duplo homicídio ao dirigir embriagado, deixou uma terceira vítima em estado de paraplegia, foi condenado por assédio, está sendo investigado por desvio de cotas, falsificação e peculato e denunciado no STF por racismo”.
E a protagonista da semana é Gleisi. Não apenas por ser vítima de machismo e da cafajestagem típica dos bolsonaristas. Já em sua posse, ela demonstrou que as rusgas políticas se dissipam rapidamente no ar seco de Brasília. Estendeu a mão ao ministro Fernando Haddad, retomou informações na relação com o Centrão que estavam paralisadas desde o ano anterior, como a votação do Orçamento 2025, por exemplo.
O projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, uma das principais apostas para marcar o terceiro mandato do PT na presidência, também ganhou novos avanços graças à habilidade política de Gleisi Hoffmann. Pela primeira vez, há uma possibilidade concreta de aprovação no Congresso.
De “agressiva” a solucionadora de impasses.
Em uma paródia ao filme “Il futuro è donna” (1984), com Ornella Muti, poderíamos afirmar que o presente do governo é feminino.