Home Brasil Gertrude, Alice e Picasso: Revelações Bombásticas Que Transformarão Seu Entendimento Sobre a Arte!

Gertrude, Alice e Picasso: Revelações Bombásticas Que Transformarão Seu Entendimento Sobre a Arte!

por James Joshua

Com grande energia, percorri as encantadoras ruas do Bexiga e entrei no acolhedor Mi Teatro, dirigido por Mara Carvalho. O ambiente intimista permite apreciar de perto o talento de atrizes e atores em uma celebração. Foi exatamente isso que presenciei na tocante apresentação da peça “Gertrude, Alice e Picasso”, escrita por Alcides Nogueira em 1996 a pedido da renomada Nicette Bruno, uma verdadeira lenda do teatro. Na montagem atual, Vanessa Goulartt, neta de Nicette e Paulo Goulart, dirige sua mãe, Bárbara Bruno, que dá vida e uma nova interpretação a Gertrude Stein, um verdadeiro ícone intelectual da Belle Époque em Paris e, principalmente, dos “loucos anos 20”, um período em que a cidade era um fervilhar de experimentos artísticos variados.

Gertrude Stein, uma norte-americana natural de Pittsburgh, desafiou as estruturas misóginas de sua época, rompendo barreiras e se tornando uma importante promotora de grandes artistas e escritores. Sua casa na Rue de Fleurus, em Paris, tornou-se um “salão” indispensável para artistas e intelectuais. Com uma herança substancial tanto financeira quanto simbólica, Gertrude e seus irmãos, Leo e Michel Stein, atuaram como patronos fundamentais para a difusão de vanguardas artísticas que moldariam o século XX. Entre os grandes nomes que passaram pela influência de Stein estão Pablo Picasso, Matisse, Georges Braque, Andre Derain, Juan Gris, Apollinaire, Francis Picabia, Ezra Pound, Ernest Hemingway e James Joyce.

A peça retrata esse universo, com uma atuação brilhante de Bárbara Bruno, que interpreta uma Gertrude com nuances brasileiras, adaptando os dilemas da época — como guerras e o surgimento do fascismo — aos desafios contemporâneos, refletindo sobre a ascensão implacável da direita neo-fascista, tanto no Brasil quanto no mundo. Barbara Bruno recita poemas e cada palavra que profere ressoa de maneira profética, iluminando não apenas a sua persona, mas também a de Gertrude e a herança deixada por seus pais extraordinários — Nicette e Paulo — que se manifestam em seu semblante, que alterna entre gravidade e humor. É realmente um espetáculo deslumbrante, uma verdadeira representação de uma tradicional família brasileira.

Esses elementos se entrelaçam em uma narrativa de amor ao longo de décadas, destacando a relação entre duas mulheres notáveis, Gertrude e Alice B. Toklas. O romance entre elas é cercado por artistas com mentes perturbadas, “gênios e monstros”, festins, receitas, brownies de cannabis, além da solidão e da violação que enfrentam por parte de uma sociedade patriarcal. No entanto, a montagem no Mi Teatro apresenta uma dinâmica fascinante. Joca Andreazza, com sua voz impressionante, interpreta um Picasso leve e bem-humorado, que nunca se comporta de maneira desrespeitosa em relação às protagonistas. Ele flutua com graça entre Gertrude e Alice, formando um trio repleto de afeto, paixão, amor, desejo e revolução — uma narrativa belíssima.

A trajetória de Alice B. Toklas, que também era norte-americana e descendente de judeus poloneses, carrega um peso trágico. Apesar de ser a companheira ao longo da vida de Gertrude, após a morte de “Miss Stein” em 1946, Alice enfrenta solidão e dificuldades financeiras. O relacionamento delas não obteve reconhecimento legal, o que era comum na época, e mesmo com Gertrude deixando sua herança para Alice, a família de Gertrude contestou isso, deixando-a subitamente dependente da generosidade de alguns poucos amigos. Na peça, o humor, a dor, o amor e o tempo se entrelaçam em uma espiral de luz e sombra, graça e poesia de maneira contínua. Alice é retratada com encanto por Patrícia Vilela, uma poderosa presença no palco que infunde em sua interpretação a melancolia, beleza e tristeza das mulheres de um mundo vasto e trágico. Vale a pena acompanhar cada minuto. E, se as palavras de admiração não são suficientes, vale a pena conferir pessoalmente a veracidade deste elogio.

Fonte: Noticia Internacional

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