Home Brasil Funk em Alerta! Onda de Revolta se Forma se Lei Anti-Oruam Passar!

Funk em Alerta! Onda de Revolta se Forma se Lei Anti-Oruam Passar!

por James Joshua

Por Michele Carvalho –

“Falo como uma militante do movimento funk, atuando na linha de frente há cerca de 15 anos. Notei que, sempre que ocorre uma situação extrema dentro do movimento, ele se reúne e se manifesta de maneira organizada no âmbito político”, comentou a especialista em cultura funk e uma das articuladoras da Frente Nacional de Mulheres do Funk, Renata Prado, durante sua participação no podcast Três Por Quarto, na quinta-feira (6).

A profissional explica que o conteúdo da lei já abrange os princípios que o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece para a proteção e atenção a esse público, porém sob uma ótica moral. “O que está proposto na lei ‘anti-Oruam’ já está contido no Estatuto da Juventude, bem como no ECA. É uma reprodução fundamentada em moralismo, e há uma manipulação política e social para criminalizar um movimento localizado na periferia, que, na verdade, não é criminoso”, destaca a especialista.

Renata ressalta que, assim como outras manifestações culturais, o funk retrata a realidade das periferias em todo o Brasil. “O movimento funk não pode escapar dessa etiqueta de marginalização e criminalização, uma vez que estamos lidando com uma expressão cultural de jovens de periferias e favelas, em sua maioria negros, que expressam seu cotidiano, que se manifestam sobre o poder paralelo e enfrentam questões políticas, o que não é conveniente para a política existente atualmente”, expõe.

Ela também critica o discurso moralista que se volta contra as letras das músicas, “sem levar em consideração a autonomia das mulheres”. “Não me refiro a crianças ou adolescentes, mas sim a mulheres que escolheram ser sexualmente livres”, menciona. “Além disso, precisamos compreender essa normatização do corpo feminino, que tenta silenciar a discussão sobre sexo, como se isso não fizesse parte da condição humana”, ela conclui.

Criminalização do funk

A edição desta semana do Três Por Quatro também contou com a presença do cientista político e doutorando em mudanças sociais pela Universidade de São Paulo (USP), Joselicio Junior, que estreou como comentarista fixo do podcast. No diálogo, ele reafirma que a lei “anti-Oruam” é uma maneira de criminalizar o movimento periférico e acrescenta que “mais do que simplesmente aprovar ou rejeitar a lei, a intenção é construir um espaço político conservador, disputando o cotidiano das pessoas a partir dessa perspectiva”. “Assim, há uma criminalização de uma determinada expressão cultural que tem raízes na juventude, que é negra e popular, com o objetivo de criar um projeto de dominação.”

Junior também menciona as contradições presentes nesse projeto de lei. “É interessante notar que, por um lado, tentam proibir a contratação de funkeiros, enquanto, por outro lado, artistas sertanejos são contratados por cachês exorbitantes, que em muitas vezes superam o orçamento de saúde de pequenas cidades, e isso não levanta discussões sobre proibição”, reflete o cientista político.

Diálogo ao invés de repressão

O especialista ainda destaca que o funk representa uma parte significativa da sociedade brasileira, “porque se conecta com a subjetividade do dia a dia”. “Por exemplo, o debate sobre ostentação, o que é isso se não uma busca por superar a condição de pobreza? Talvez esse não seja o viés que gostaríamos; frequentemente pensamos em um projeto mais coletivo. Mas, em uma sociedade extremamente fragmentada e individualizada, a superação da sua condição, através da música e da cultura, permitindo ostentar e servir de exemplo para outros jovens como uma chance de ascensão social, faz sentido”, justifica.

Diante disso, o cientista político acredita que o poder público precisa se envolver com esse movimento, “mapear esses territórios, abrir um canal de diálogo com esses jovens e buscar alternativas em relação a horários e espaços para a realização dos bailes funks”.

O videocast Três Por Quatro vai ao ar todas as quintas-feiras, às 12h, ao vivo no YouTube e nas principais plataformas de podcasts, como o Spotify.

Fonte: Noticia Internacional

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