Uma Tragédia de Proporções Históricas
Jerusalém arde. Um incêndio de proporções inéditas avança com fúria pelas colinas e bairros da cidade, reduzindo ruas e lares a cinzas e desesperança. As labaredas se multiplicam como feridas abertas no coração de uma nação em luto.
Israeli firefighters continue to battle a wildfire near Jerusalem, May 1, 2025. (Sharon Aronowicz/AFPTV/AFP)
Apesar da rapidez com que o fogo se espalha, a resposta não é de total abandono. Bombeiros exaustos, muitos trabalhando turnos dobrados sem descanso, enfrentam o inimigo invisível com bravura. Caminhões-tanque cruzam ruas cobertas de fuligem enquanto voluntários se somam à linha de frente. O combate é desigual, mas a resistência é real.
Ainda assim, as limitações de recursos e a complexidade do terreno comprometem a contenção. As autoridades, sob pressão, enfrentam duras críticas por decisões precipitadas – como autorizar o retorno de evacuados em áreas ainda sob risco. O fogo avança, implacável, e seis regiões continuam cercadas por chamas no que deveria ser um dia de celebração pela independência nacional.
A chegada da ajuda internacional traz novo fôlego: aviões europeus sobrevoam a cidade, despejando retardantes e oferecendo apoio logístico. Equipes especializadas desembarcam com equipamentos de última geração. É uma corrida contra o tempo, e o mundo assiste, solidário, à luta de Jerusalém para não sucumbir.

A firefighter tries to extinguish a massive wildfire at Canada Park, west of Jerusalem, April 30, 2025. (Yonatan Sindel/Flash90)
Mais de 100 equipes de combate ao fogo enfrentam, com coragem e exaustão visível, o segundo dia consecutivo de batalhas contra as chamas que consomem as colinas a oeste de Jerusalém. É um esforço incansável: homens e mulheres avançam entre fumaça densa e calor insuportável, tentando conter um inimigo imprevisível.
Durante a noite, os bombeiros conseguiram alguns avanços — pequenas vitórias em um campo de guerra flamejante. Ainda assim, o incêndio continua fora de controle, alimentado por ventos instáveis e vegetação seca.
A chegada de aeronaves estrangeiras representa um verdadeiro reforço logístico e psicológico. Elas não são um “último suspiro”, mas um passo concreto na tentativa de retomar o controle diante de uma crise agravada pela resposta local hesitante e por decisões mal coordenadas.
Enquanto o país tentava celebrar sua independência, a reabertura precoce de estradas e o retorno forçado de moradores a áreas de risco criaram uma falsa sensação de normalidade. O fogo, no entanto, continua ativo e perigoso, desafiando a narrativa oficial de estabilidade.
O que se vê é uma tentativa desesperada de manter a ordem pública, mesmo que isso signifique minimizar uma ameaça ainda presente. O resultado: vidas colocadas em risco e uma população desconfiada da capacidade de seus líderes em gerir a crise com transparência e eficácia.

Israeli fire crews battle a wildfire in Latrun, outside of Jerusalem, May 1, 2025. (AP/Ohad Zwigenberg)
Em um comunicado carregado de tensão, o Corpo de Bombeiros reconheceu a gravidade da situação:
“Ainda não conseguimos conter completamente este incêndio.” A declaração expõe, com honestidade, os limites da operação diante de um cenário imprevisível e em constante mudança.
As palavras dos bombeiros não são apenas um aviso — são um pedido de atenção nacional. Elas evidenciam o peso da missão enfrentada por equipes que atuam no limite físico e emocional, e refletem o crescente sentimento de insegurança que toma conta da população.
Segundo dados oficiais, aproximadamente 20.000 dunams já foram consumidos pelo fogo, incluindo 13.000 dunams de áreas florestais, agora reduzidas a paisagens carbonizadas. Um dos maiores impactos foi registrado no Parque do Canadá, cuja vegetação densa foi transformada em um deserto de cinzas — símbolo claro da força avassaladora deste incêndio.

Firefighters work to extinguish a forest fire burning in the Jerusalem hills, April 30, 2025. (AP Photo/Mahmoud Illean)
O calor extremo e os ventos fortes agravaram o avanço das chamas nas primeiras horas da quarta-feira, criando as condições perfeitas para o que já é considerado um dos incêndios mais severos da história recente de Israel. O fogo forçou a evacuação de 10 comunidades e levou ao bloqueio completo de importantes rodovias, paralisando acessos estratégicos à capital.
Embora a Route 1 — principal ligação entre Jerusalém e Tel Aviv — tenha sido reaberta, assim como o serviço ferroviário entre as duas cidades, a decisão levanta questionamentos. Para muitos, trata-se de uma medida apressada diante de uma paisagem ainda marcada por fuligem, fumaça e risco constante de reignição.
Motoristas que abandonaram seus carros durante a correria da evacuação agora são instruídos a retornar, mesmo com a instabilidade da situação. A sensação é de que, mais do que um avanço real, a normalidade foi retomada à força — um alívio aparente diante de uma realidade ainda perigosa.

View of a massive wildfire near Mevo Horon, April 30, 2025. (Yonatan Sindel/Flash90)
O Corpo de Bombeiros informou que 126 brigadas estavam empenhadas em combater seis incêndios distintos na região oeste da capital,
um número que já caiu em comparação aos 163 times mobilizados no dia anterior, sinalizando o desgaste dos heróis da chama.
Sob condições exaustivas e desumanas, os bombeiros arriscam suas vidas numa luta que beira o impossível.
Apesar de uma breve queda nas temperaturas e a promessa de um chuvisco passageiro,
os alertas de que o fogo pode ressurgir com ventos mais fortes e um calor abrasador se intensificam para a tarde.
O Dia da Independência, tradicionalmente alegre, transformou-se em um cenário apocalíptico onde o pânico impera.
תיעוד מהאוויר: כך נראה הנזק העצום מהשרפה באזור ירושלים@inbartvizer pic.twitter.com/9MI4KhlGbt
— החדשות – N12 (@N12News) May 1, 2025
Num esforço sem precedentes, a ajuda internacional começa a se materializar para enfrentar essa calamidade.
Aviões vindos de Chipre, Itália e outras nações prometem suporte urgente, enquanto ofertas de socorro surgem de países como Ucrânia, Espanha, França, Romênia e Croácia.
Essa mobilização externa sublinha a completa incapacidade do governo local em gerir a tragédia, deixando a população à beira do desespero.
A situação é ainda mais crítica: dos 14 aviões inicialmente destinados ao combate, apenas 10 permanecem no ar lutando contra o avanço implacável do fogo.
Lesões a 17 bombeiros, com alguns precisando de hospitalização, retratam o custo humano dessa batalha infernal.
Cada ferido é um lembrete doloroso da irresponsabilidade que alimenta o desastre.

A firefighter airplane drops flame retardant while trying to extinguish a forest fire near Beit Shemesh, May 1, 2025. (Ahmad GHARABLI / AFP)
Não restava outra opção senão acionar o comando militar para reforçar os esforços contra as chamas.
Quatro potentes C-130J Super Hercules da Força Aérea operaram a noite inteira, despejando mais de 95 cargas de material retardante sobre os focos de fogo.
Além disso, a mobilização terrestre com mais de 50 caminhões de bombeiros, reservistas e equipamentos essenciais formou uma barreira contra o avanço destrutivo do incêndio.

IAF pilot is seen in a C-130J Super Hercules during firefighting efforts in the Jerusalem area, April 30, 2025. (Israel Defense Forces)
A inteligência militar não poupou esforços e, usando satélites e aeronaves, mapeou com precisão os focos do desastre,
sincronizando todos os recursos disponíveis numa tentativa frenética de controlar a devastação.
Essa operação de alto risco evidencia uma resposta tardia e fragmentada, marcando a ineficiência sistêmica diante do caos.
Enquanto a luta incessante se estende também para o norte do país,
brigadas e voluntários foram enviados para combater incêndios em regiões como Afula, Rumat al-Heib e Ramat Zvi.
Equipes adicionais se deslocaram para reforçar a linha de frente fora de Jerusalém, ampliando o esforço em um cenário dominado pela desesperança.
Na madrugada, em um gesto de heroísmo que contrasta com a devastação,
bombeiros conseguiram resgatar três pessoas de um incêndio devastador em uma casa de repouso na cidade litorânea de Bat Yam.
Cada vida salva é uma luz tênue em meio a um pesadelo que parece não ter fim.
Fonte: THE TIMES OF ISRAEL
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