Home Brasil Faraó do Axé: Salvador Explode em Carnaval Maníaco Celebrando 40 Anos de euforia!

Faraó do Axé: Salvador Explode em Carnaval Maníaco Celebrando 40 Anos de euforia!

por James Joshua

O apogeu do axé como um fenômeno no setor fonográfico aconteceu em conjunto com a frustração da música independente na Bahia. Muitos artistas, que não se sentiam conectados com o estilo que animava os trios e blocos de Carnaval, frequentemente expressavam descontentamento pela escassez de oportunidades para se apresentarem, mesmo fora das épocas de festividade.

Quarenta anos depois, essa dinâmica se transformou com a emergência de novas gerações de artistas independentes que veem o axé como uma lembrança que pode iniciar diálogos com diversas vertentes musicais.

Márcia Castro se destaca como um exemplo desse fenômeno. Em 2021, ela lançou um álbum de axé inspirado no repertório do Carnaval de Salvador, que contou com a participação de figuras como Margareth Menezes, Daniela Mercury e Ivete Sangalo. Em 2024, a artista revisitou esse universo com o LP “Roda de Samba Reggae”, que apresentou novas interpretações de canções populares do Chiclete com Banana e do Cortejo Afro, entre outros.

A cantora recorda que sua relação com o axé passou por uma trajetória de aversão, reavaliação e respeito, um processo que começou na adolescência.

“Na minha juventude, eu era um tanto contrária à cultura baiana, por não enxergar possibilidades de fazer música fora do axé. O gênero começou a se transformar em algo muito complicado musicalmente. A indústria foi tomando conta, sabe? Eu detestava mesmo o estilo, pois ele foi tão comercializado que a identidade e a cultura acabaram sendo deixadas de lado. Portanto, ser contra isso era um posicionamento contra a cultura hegemônica e dominante do axé na Bahia. Durante muitos anos, eu critiquei essa cultura do axé”, relembra.

Márcia também notou que, em sua adolescência, se aventurou pelos caminhos da Música Popular Brasileira (MPB), mas sempre com um olhar voltado para a Bahia, com toda a sua efervescência e essência. “Hoje eu compreendo isso. Na realidade, eu me opunha a esse grande sistema industrial que padronizou e embranqueceu a música negra. Criando modelos estéticos, visuais e de mercado que eram desfavoráveis para artistas que não se encaixavam. Assim, formou-se uma espécie de monopólio, um cartel.”

Em sua análise, havia poucos empresários controlando um mercado vasto, impondo regras e narrativas a esse movimento. “Isso foi bastante complicado. Nesse sentido, meu posicionamento era contrário à cultura. Hoje, vejo as coisas de uma forma diferente. Minha perspectiva musical em relação à mercantilização do axé permanece a mesma, mas agora consigo olhar além desse véu, percebendo a riqueza dessa obra, a força desse movimento e sua relevância para a cultura, a música e a economia da Bahia como um todo.”

A cantora e compositora Ayassi também reconhece o valor tanto na dimensão artística das canções quanto no aspecto político de alguns nomes e marcos do axé. Em 2023, ela lançou sua versão da música “Se Você Se For”, da Timbalada, fazendo referência a outro sucesso do grupo, “Meia Hora”, ao combinar diversas influências musicais.

“Neste arranjo de ‘Se Você Se For’, conseguimos unir a sonoridade da Timbalada, o samba de roda do Recôncavo e até Michael Jackson. Trouxemos um pouco dessa mistura na minha ousadia musical, sabe? Paulo Mudi, meu produtor, compreendeu bem essa visão. A Timbalada segue muito presente em mim até hoje. Daniela também, é claro, com toda sua inovação musical e, principalmente, seu ativismo cultural, que, sem dúvida, me inspira. Ivete é outra grande fonte de inspiração. Eu sou fruto do Carnaval, amo isso, sou foliã. Não há como ser cantora de trio sem estar conectada a memórias de vida que essas canções trazem, ainda mais sendo baiana”, comenta.

Outra artista independente que fez uma homenagem à Timbalada é Josiara, cantora, compositora e violonista. Em 2024, ela lançou “Mandinga Multiplicação – Josiara Canta Timbalada”, que inclui sucessos como “Margarida Perfumada” e “Namoro a Dois”.

O interesse de Josiara pela cena musical transcende, levando-a a reinterpretar um hit da Banda Asa de Águia. Em “Não Tem Lua”, ela fez um dueto com a cantora e compositora Juliana Linhares.

“Para mim, essa relação está muito ligada às memórias da infância, de ouvir essas músicas em casa. Isso evoca sentimentos bons e me motiva a cantar. Vejo essa conexão como algo muito íntimo, mas acredito que também se deve à beleza desse repertório. São canções grandiosas que precisam ser resgatadas e cantadas novamente; não podem desaparecer. Por isso, gravei ‘Não Tem Lua’ com Juliana Linhares, uma música maravilhosa. Continuo celebrando os artistas desse período de ouro, pois realmente há um grande manancial de beleza”, afirma ela.

Dentro das várias iniciativas de releituras do axé, podemos mencionar também a banda baiana Suinga, que se inspira em precursores como Jerônimo, e o álbum “Bloco do Silva”, do cantor e compositor capixaba, que revisita temas de artistas como Ara Ketu e Carlinhos Brown.

Fonte: Noticia Internacional

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