Home Brasil Desespero à Vista: O Fim Está Próximo e Ninguém Escapa!

Desespero à Vista: O Fim Está Próximo e Ninguém Escapa!

por James Joshua

A despeito das críticas que são necessárias – como as referentes ao cineasta de vasta fortuna, à atriz “privilegiada”, à família rica e branca do deputado Rubens Paiva, entre outras questões que revelam o apartheid social e racial do nosso país – “Ainda estou aqui” (tanto o livro quanto o filme) representa uma das melhores experiências recentes que tivemos. Aqueles que tiveram a oportunidade de ler o livro de 2015 sabem que Marcelo Rubens Paiva acredita que a violência enfrentada pela sua família não se limita à militância de seu pai, mas está enraizada em uma história mais ampla de violência, que remonta ao período colonial, à exploração e à escravidão de quase quatro séculos. Em essência, essa narrativa brasileira foi construída de tal forma que o filme consegue capturar: a aparente felicidade de uma família privilegiada é brutalmente interrompida pela invasão repentina de agentes do Estado, quase como se a felicidade também fosse um crime.

De fato, não há nada de inédito sob o sol da Rocinha, do Pavão-Pavãozinho, de Canudos, da Maré, do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto e de tantos outros locais onde o povo brasileiro se mobilizou para enfrentar as investidas do Estado. Em tempos de carnaval, a nossa grande festividade é, como menciona Luiz Antonio Simas, uma fresta de vida, rebeldia e alegria em meio a tanto engano e brutalidade. Por essas razões, celebrar o carnaval em torno de “Ainda estou aqui” é, de fato, refletir sobre a totalidade da história do Brasil, uma narrativa da ditadura que, para negros, pardos e indígenas, sempre representou uma eterna luta, como sempre destacou o nosso imortal Ailton Krenak. E foi exatamente ao defender os direitos indígenas que Eunice Paiva, companheira de Rubens Paiva, ressignificou sua dor e sua existência em um Brasil repleto de violências. Obter o atestado de óbito de Rubens Paiva e lutar pelos direitos indígenas se tornaram os principais objetivos de sua vida.

Que a impressionante força do filme e do cinema mobilize um poder judiciário que ainda enfrenta as marcas da Ditadura, a Lei de Anistia de 1979 e a violência que muitas vezes têm sido perpetuada pelas forças de segurança pública em diversas partes do Brasil. É fundamental que uma política contínua do Estado, de preferência por meio de alguma emenda constitucional, fomente as diferentes comissões de mortos e desaparecidos, expondo e debatendo essas questões em várias instâncias do Governo e do Estado. Não podemos permitir que haja um perdão para milicos golpistas novamente. Mais do que isso, que o Estado brasileiro promova um debate ainda mais abrangente, como uma espécie de “estado de emergência humanitária”: quantos e quem são os indígenas mortos e desaparecidos desde, pelo menos, o início da República? quantos e quem são os jovens negros assassinados muito antes da tragédia da Candelária? Poucas coisas são tão tocantes no mundo contemporâneo quanto um cinema de qualidade e uma atriz brilhando em seu auge. Aproveitemos este momento para perceber e reconhecer o óbvio: 1964 é a história do Brasil como um todo. Enquanto essa história permanecer presente, continuaremos vigilantes e atentos. E se o Oscar quiser se juntar a nós, será bem-vindo.

Fonte: Noticia Internacional

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