São Paulo — A Corregedoria da Polícia Civil está investigando três delegados de 1ª Classe e um investigador por terem participado de um seminário em Las Vegas, nos Estados Unidos, com despesas que supostamente foram cobertas por uma fintech associada ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
A investigação foi confirmada pela Secretaria da Segurança Pública no final da tarde de quarta-feira (26/2).
Segundo a Secretaria, a Corregedoria começou a apurar a situação após a prisão do policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, que foi detido pela Polícia Federal em novembro do ano passado, no interior de São Paulo, durante a operação Tai-Pan. Essa operação investigava crimes financeiros que resultaram na movimentação de R$ 6 bilhões ao longo dos últimos cinco anos.
A quantia em questão era lavada e movimentada pela Fintech 2GO Bank, da qual Cyllas é fundador e CEO.
Cyllas, que atuava como agente de telecomunicações na Polícia Civil, foi liberado em janeiro deste ano por decisão da Justiça federal, mas foi novamente preso pela PF na terça-feira (25/02), durante a Operação Hydra, realizada em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo.
Viagem autorizada pela SSP
Conforme publicado no Diário Oficial de 24 de julho do ano passado, os delegados Paulo Alberto Mendes Pereira, Paulo Eduardo Pereira Barbosa, Luiz Alberto Guerra, além do investigador Bruno Souza Rechinho, tiveram suas ausências, com remuneração, aprovadas pela Secretaria. A defesa deles não foi encontrada até o momento.
A viagem para Las Vegas, segundo a publicação oficial, não gerou custos ao Estado. Os policiais civis, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), participaram dos eventos Blackhat e Defcon 32, que ocorreram entre 1º e 14 de agosto de 2024, reconhecidos como os principais encontros globais de cibersegurança.
O investigador Bruno Souza Rechinho compartilhou diversas fotos de sua estadia nos Estados Unidos em uma rede social. Ele também seguia o perfil da 2GO em uma plataforma de empregos e fez interações em uma publicação de Cyllas.
Bilhões em 16 nações
A rede da fintech sob a gestão de Cyllas teria movimentado a quantia de R$ 6 bilhões em pelo menos 16 países, incluindo o Brasil.
A lista, apresentada em uma denúncia obtida pelo Ministério Público, envolve nações da Europa, América Latina, além de Estados Unidos e China. As movimentações na China merecem destaque, considerando que a supervisão das autoridades naquele país é interrompida.
O promotor Lincoln Gakiya declarou que a situação não foi uma surpresa para o Gaeco. “Os criminosos têm buscado complicar a rastreabilidade dos recursos por meio de operações financeiras camufladas, envolvendo não apenas outras contas, mas também diversas instituições financeiras. Na China, essa rastreabilidade é completamente perdida,” afirmou.
A ascensão do PCC ao status de máfia, como realçado pelo promotor de Justiça, é atribuída à ação do “braço corrupto do estado” que auxilia as atividades da facção criminosa. Gakiya expressou preocupação ao notar a infiltração do crime organizado nas estruturas governamentais, incluindo as forças de segurança.
“A presença desse braço corrupto do estado é crucial para que a organização criminosa [PCC] atinja suas metas, como a defesa das áreas sob seu controle e a continuidade dos negócios relacionados à lavagem de dinheiro. Sem essa infiltração nas instituições do estado, o PCC não teria alcançado o nível que possui hoje,” destacou.
Conforme já relatado, há policiais civis e militares na prisão sob suspeita de envolvimento com as atividades ilícitas da facção, incluindo práticas de lavagem de dinheiro e participação, direta ou indireta, no assassinato de Vinícius Gritzbach, que foi executado no Aeroporto Internacional de São Paulo apenas oito dias após denunciar a colaboração de agentes públicos com o PCC.