Uma nova interrupção no Sistema Elétrico Nacional (SEN) deixou Cuba às escuras novamente na noite desta sexta-feira (14). Esse apagão, que afetou toda a ilha, é parte de uma grave crise energética que tem se intensificado nos últimos anos. Este é o quarto colapso do sistema elétrico que o país enfrenta em um intervalo de apenas seis meses.
De acordo com um breve comunicado do Ministério de Energia e Minas (Minem), o colapso ocorreu por volta das 20h15, horário local, devido a uma falha em uma subestação em Diezmero, nas proximidades de Havana. A situação resultou em uma “perda significativa de geração no oeste de Cuba”, levando ao desligamento total do sistema elétrico nacional.
As autoridades asseguraram que estão seguindo “todos os protocolos estabelecidos” para reverter a situação, e o ministro da Energia, Vicente de la O Levy, mencionou que a recuperação será feita de forma gradativa. Para retomar o funcionamento do Sistema Elétrico Nacional, microssistemas de energia foram implementados em várias províncias. Na manhã de sábado (15), as conexões parciais já haviam conseguido restabelecer o fornecimento de eletricidade em cerca de dez províncias.
Crise energética
Desde 2020, a ilha tem enfrentado cortes de energia frequentes, especialmente nas áreas rurais, onde os apagões se tornaram uma realidade comum, durando longas horas diariamente.
A situação foi se agravando e, a partir de 2022, os apagões extensos começaram a ocorrer em diversas províncias. Com mais de 40% do território nacional afetado, o governo declarou uma “emergência energética” em outubro de 2024. Essa medida envolveu o fechamento temporário de escolas e a suspensão de atividades culturais e recreativas, priorizando o fornecimento de energia para hospitais e centros de produção de alimentos.
No entanto, poucas horas após o anúncio, Cuba sofreu um novo apagão geral, deixando a ilha completamente no escuro. A situação, já crítica, se deteriorou rapidamente quando, 48 horas depois, em 20 de outubro, o furacão Oscar atingiu a ilha. Durante o apagão nacional, que dificultou as operações de prevenção, o furacão resultou na morte de oito pessoas.
A crise energética continuou a se agravar. No dia 6 de novembro, outro furacão, chamado Rafael, atingiu a ilha, ocasionando uma nova interrupção do sistema elétrico e deixando todo o país sem energia. As maiores consequências foram observadas no oeste do país, afetando áreas densamente povoadas como Artemisa, Pinar del Río e a capital Havana.
Os furacões causaram danos significativos à ilha. De acordo com dados oficiais, mais de 46 mil residências foram afetadas, com desabamentos totais ou parciais. Além disso, 37 mil hectares de terras agrícolas foram destruídos. Essas perdas massivas ocorrem em um momento em que Cuba já enfrenta uma séria crise econômica e energética.
No mês de dezembro, uma nova falha na usina Antonio Guiteras, que é a principal termoelétrica do país, resultou no terceiro apagão nacional do ano. Desde então, os cortes de energia têm ocorrido com maior frequência, afetando quase metade do território nacional. Para tentar conter o consumo de energia, o governo começou a aplicar desligamentos programados com maior regularidade, especialmente em Havana, onde antes os apagões eram menos frequentes do que nas áreas interiores.
Crise energética e bloqueio
A eletricidade em Cuba é gerada principalmente por usinas termoelétricas que operam com combustível. Essas instalações são antigas, e muitas delas têm mais de 30 anos, exigindo manutenção constante para manter seu funcionamento. Como a infraestrutura é bastante envelhecida, problemas são comuns e as usinas frequentemente ficam fora de operação para reparos.
Além disso, a falta de combustível, essencial para manter essas usinas operando, leva o governo a desligar diversos geradores de energia espalhados pelo país, com o intuito de racionar o uso. Atualmente, mais de 95% da energia do país provém de combustíveis fósseis, enquanto apenas 5% é gerada por fontes renováveis. O combustível utilizado nas termoelétricas é majoritariamente importado, e as importações de combustível – assim como de outros produtos – são dificultadas pelo bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos.
Estima-se que as importações de energia custem ao Estado cubano até três vezes mais que o preço médio internacional. Isso impacta diretamente a economia do país, restringindo os recursos disponíveis para modernizar o sistema elétrico.
O bloqueio também impede que Cuba acesse o mercado financeiro internacional. Ao contrário da maioria das nações, Cuba não consegue realizar os investimentos necessários para reformar seu sistema elétrico. Esse fator é um dos principais entraves ao desenvolvimento do país e uma das causas – embora não a única – da profunda crise econômica que enfrenta.
Conforme dados da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), apenas entre março de 2023 e fevereiro de 2024, o bloqueio resultou em uma perda estimada de 5,5 bilhões de dólares, totalizando mais de 421 milhões de dólares por mês, segundo estimativas do governo cubano.
Cuba: esforços para uma solução de longo prazo
Diante da gravidade da crise, o governo cubano lançou um plano de “independência energética”, voltado para o desenvolvimento de energias renováveis, com foco especial na energia solar.
O objetivo de Cuba é aumentar a participação das energias renováveis na geração de eletricidade, passando dos atuais 5% para 25% até 2031, sendo que metade dessa energia renovável deve ser proveniente de fontes solares.
Com o suporte da China, Cuba iniciou um programa para construir 100 parques solares até 2031, com uma capacidade total de 2.000 megawatts. O primeiro destes parques foi inaugurado no dia 21 de fevereiro, nas proximidades de Havana.