São Paulo – Com o fim do desconto nas contas de luz que ajudou a conter a inflação em janeiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, registrou uma alta de 1,31% em fevereiro. Este é o maior índice desde março de 2022, quando a variação foi de 1,62%, e também o maior valor para um mês de fevereiro desde 2003.
Os dados apresentados nesta quarta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, no acumulado de 12 meses, o IPCA alcançou 5,06%, a maior taxa desde setembro de 2023, que foi de 5,19%. Além disso, esse número supera a meta do governo, que é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, variando entre 1,5% e 4,5%.
A partir de 2025, o período de referência para a meta será os últimos 12 meses, ao invés de considerar apenas o resultado de dezembro. A meta só será considerada descumprida se ultrapassar a faixa de tolerância por seis meses consecutivos.
Em janeiro, a variação acumulada em 12 meses foi de 4,56%. Portanto, com as novas regras, fevereiro marca o segundo mês consecutivo fora do limite de tolerância estabelecido.
Conta de luz
O aumento de 16,8% na tarifa de energia elétrica foi o principal fator que pressionou a inflação. Essa alta teve um impacto de 0,56 ponto percentual no índice geral. Isso se deveu ao efeito estatístico causado pelo término do Bônus Itaipu, um desconto concedido aos consumidores em janeiro, que fez com que a inflação daquele mês fosse de apenas 0,16%.
Com a remoção do desconto em fevereiro, os preços da energia dispararam, resultando em uma variação no item habitação que saltou de -3,08% em janeiro para 4,44% em fevereiro, representando a maior contribuição inflacionária do mês (0,65 ponto percentual).
O gerente do IPCA, Fernando Gonçalves, destaca que o subitem energia elétrica residencial passou de um declínio de 14,21% em janeiro para um aumento de 16,80% em fevereiro.
Segundo Gonçalves, se excluíssemos o efeito da energia elétrica, a inflação teria sido de 0,78%, o que representaria a maior alta desde fevereiro de 2024, que foi de 0,83%.
Mensalidades escolares
A educação foi outro grande responsável pelo aumento dos preços em fevereiro, com um incremento de 4,7%, resultando em um impacto de 0,28 pontos percentuais. Esse aumento se deve aos tradicionais reajustes nas mensalidades escolares, com destaque para o ensino fundamental (7,51%), ensino médio (7,27%) e pré-escola (7,02%).
Alimentos sobem menos
Uma das principais preocupações do governo atualmente, o preço dos alimentos, desacelerou em fevereiro. Embora continuem a subir, a taxa de aumento foi menor.
O crescimento foi de 0,70% (impacto de 0,15 ponto percentual), comparado a um aumento de 0,96% em janeiro.
Nos grupos de alimentos e bebidas, os maiores impactos foram observados no café moído, que subiu 10,77% (impacto de 0,06 pontos) e no ovo de galinha, com uma alta de 15,39% e impacto de 0,04 ponto percentual.
Gonçalves comenta que o aumento do café é resultado de problemas na safra, com a commodity apresentando crescimento contínuo desde janeiro de 2024. Já a alta no valor do ovo deve-se ao aumento nas exportações, após surtos de gripe aviária nos Estados Unidos, além da maior demanda devido ao retorno às aulas. O calor excessivo também tem afetado a produção, resultando em menor oferta.
Nos últimos 12 meses, o preço do café subiu impressionantes 66,18%.
Cerca de 92% do resultado do IPCA em fevereiro se concentrou em apenas quatro dos nove grupos de produtos e serviços avaliados: habitação, educação, alimentação e bebidas, e transportes.
Transportes
O grupo de transportes teve um aumento de 0,61% (impacto de 0,13 ponto percentual), abaixo do índice de janeiro, que foi de 1,30%. O reajuste no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) afetou a alta de 2,89% nos combustíveis.
A gasolina viu um aumento de 2,78%, representando a segunda maior pressão em todos os produtos e serviços analisados pelo IBGE, com um impacto de 0,14 ponto percentual. O óleo diesel teve um aumento de 4,35%, enquanto o etanol subiu 3,62%. O impacto da gasolina é mais significativo do que o dos outros combustíveis, uma vez que tem um peso maior na cesta de consumo das famílias.
Espalhamento
O índice de difusão do IPCA para fevereiro foi de 61%. Isso implica que, dos 377 subitens (produtos e serviços) avaliados pelo IBGE, 61% tiveram aumento de preço. Em dezembro, esse valor era de 69%; e em janeiro, 65%.
Considerando apenas os produtos alimentícios, o índice de difusão de fevereiro é de 55%.
Resultado dos grupos
Educação: 4,70% (0,28 ponto percentual)
Habitação: 4,44% (0,65 ponto percentual)
Alimentação e bebidas: 0,70% (0,15 ponto percentual)
Transportes: 0,61% (0,13 ponto percentual)
Saúde e cuidados pessoais: 0,49% (0,07 ponto percentual)
Artigos de residência: 0,44% (0,01 ponto percentual)
Comunicação: 0,17% (0,01 ponto percentual)
Despesas pessoais: 0,13% (0,01 ponto percentual)
Vestuário: 0% (0 ponto percentual)
Principais impactos positivos de fevereiro
Energia elétrica residencial: 16,80% (0,56 ponto percentual)
Gasolina: 2,78% (0,14 ponto percentual)
Ensino fundamental: 7,51% (0,12 ponto percentual)
Ensino superior: 4,11% (0,07 ponto percentual)
Café moído: 10,77% (0,06 ponto percentual)
Aluguel residencial: 1,36% (0,05 ponto percentual)
Ovo de galinha: 15,39% (0,04 ponto percentual)
Ônibus urbano: 3,00% (0,03 ponto percentual)
Condomínio: 1,33% (0,03 ponto percentual)
Ensino médio: 7,27% (0,03 ponto percentual)
Etanol: 3,62% (0,02 ponto percentual)
Plano de saúde: 0,57% (0,02 ponto percentual)
Pré-escola: 7,02% (0,02 ponto percentual)
Principais impactos negativos de fevereiro
Passagem aérea: -20,46% (-0,16 ponto percentual)
Cinema, teatro e concertos: -6,96% (-0,03 ponto percentual)
Arroz: -1,61% (-0,01 ponto percentual)
Leite longa vida: -1,04% (-0,01 ponto percentual)
Batata-inglesa: -4,10% (-0,01 ponto percentual)
Banana-d’água: -5,07% (-0,01 ponto percentual)
Laranja-pera: -3,49% (-0,01 ponto percentual)
Óleo de soja: -1,98% (-0,01 ponto percentual)
O IPCA avalia o custo de vida para famílias que têm rendimentos entre um e 40 salários mínimos. A coleta de dados é realizada em dez regiões metropolitanas: Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, além de Brasília e nas capitais Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.