O evento organizado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, com o intuito de demonstrar uma suposta “adesão popular” à proposta de anistia dos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro, não teve o impacto esperado. Fotografias da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo (16), revelam um ato desprovido de público, sendo que a concentração não chegou a preencher um quarteirão inteiro.
O ato, de natureza nacional, pretendia agregar líderes da extrema-direita de diversas partes do Brasil. Bolsonaro havia manifestado a expectativa de reunir um milhão de pessoas, mas isso não se concretizou. O Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) informou que, na verdade, apenas cerca de 16,2 mil pessoas estavam presentes.
A deputada federal Jandira Feghali comentou sobre o evento em Copacabana, ressaltando que a mobilização foi “modesta” para algo que se pretendia ser a nível nacional, o que, segundo ela, evidenciava uma “perda clara de apoio na sociedade”.
Ela afirmou: “Um ato pequeno para o Rio, imagine um ato nacional. Ficou claro que o pedido de anistia é mais voltado para Bolsonaro do que para as ‘velhinhas com bíblia na mão’. Essa evidente perda de apoio na sociedade demonstra que a democracia é um bem valioso e que também há corrupção em investigação. O ato foi restrito politicamente, com os mesmos bolsonaristas de sempre. Sem peso.”
Além de buscar apoio para a anistia, a mobilização também visava atacar a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro e seus aliados, relacionados à tentativa de golpe após a derrota nas eleições presidenciais de 2022. O ex-presidente já sofreu condenações pela Justiça Eleitoral em dois casos e está proibido de se candidatar até 2030.
A manifestação ocorreu uma semana antes do Supremo Tribunal Federal começar a analisar a denúncia da Procuradoria-Geral da República, que pode levar à acusações formais contra Bolsonaro no próximo dia 25.
Até o momento, o STF já havia condenado 476 indivíduos pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes, em Brasília, foram invadidas e depredadas. A Advocacia-Geral da União (AGU) estimou que os ataques causaram um prejuízo de R$ 26,2 milhões ao patrimônio público.
Durante a manhã, muitas imagens circularam nas redes sociais evidenciando o baixo comparecimento dos bolsonaristas. Mesmo com a convocação de apoiadores de diversas regiões, os participantes não conseguiram preencher mais do que um quarteirão da Avenida Atlântica.
Os apoiadores de Bolsonaro tentaram minimizar a realidade do ato em suas postagens, mas fotografias aéreas deixaram claro o reduzido número de presentes.
No palanque, Bolsonaro contou com a presença dos governadores do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, de São Paulo, Tarcísio Freitas, de Santa Catarina, Jorginho Melo, e de Mato Grosso, Mauro Mendes.
Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal, ao lado de Bolsonaro, expressou sua confiança de que o ex-presidente se lançará na disputa de 2026. Apesar das condenações que o impedem de concorrer até 2030, Bolsonaro mantém sua intenção de candidatar-se novamente ao Palácio do Planalto em 2026.
“Eu acredito que ele será candidato à presidência. Com este governo, os preços subiram. Portanto, precisamos do Bolsonaro de volta. Os custos com carne, combustível e energia estão nas alturas. Prometeram picanha e nem ovo está acessível”, declarou Valdemar.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, também fez um apelo pela “anistia já” em sua fala. “Essas pessoas vieram para pedir anistia. O Rio clama ao Brasil: anistia já!” disse.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, fez um apelo pela anistia aos “inocentes” que teriam recebido penas desproporcionais por sua participação nos eventos de 8 de janeiro. Ele criticou a inflação e o governo, enfatizando os altos preços da alimentação e da gasolina.
O deputado federal Sóstenes Cavalcante anunciou que irá solicitar a urgência do projeto de lei que visa anistiar os envolvidos nos atos extremistas de 8 de janeiro de 2023, que está em discussão desde o ano anterior.
“Estou me comprometendo aqui com todos vocês que, nesta semana, irão entrar em pauta o projeto de anistia, com minha assinatura e de 92 deputados do PL e de outros partidos que serão surpreendidos”, destacou.
Por fim, o ex-presidente e outros sete indivíduos estão enfrentando uma denúncia da Procuradoria-Geral da República relacionada à suposta tentativa de golpe. A análise da denúncia ocorrerá no dia 25 de março, e se o STF aceitar, Bolsonaro se tornará um réu.