O ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a preocupar-se com questões econômicas nesta sexta-feira (21/3). Durante uma palestra na Universidade de Miami, nos Estados Unidos, ele destacou que os “bancos tradicionais enfrentarão grandes impactos devido às plataformas digitais”. Segundo ele, “esse fenômeno já está em curso e deve se intensificar nos próximos dois anos”.
Campos Neto, que foi sucedido por Gabriel Galípolo no início deste ano, acredita que essa “disrupção” será impulsionada pela habilidade do setor digital de fornecer serviços tecnológicos a preços mais acessíveis em comparação com os bancos convencionais. Para ele, isso se traduz em um “menor custo de conquista e retenção de clientes”.
Na apresentação, organizada pela XP e pela Miami Herbert Business School, o ex-presidente do BC mencionou que os países em desenvolvimento poderiam estar na vanguarda nesta transformação. Ele afirmou que, devido ao aumento da digitalização, as nações emergentes estão mais avançadas. “Nos Estados Unidos, ainda se usa talões de cheque”, completou.
Campos Neto observou que as operações “transacionais” dos grandes bancos, que envolvem tarifas e taxas, estão perdendo sua relevância. Isso se deve à crescente adoção de sistemas de pagamento instantâneo, como o Pix. “E o Pix pode funcionar por aproximação”, afirmou, acrescentando que “eventualmente, ele poderá ter características de um cartão de crédito”.
Ele comentou também que os serviços bancários devem convergir para uma plataforma única, o que irá modificar a maneira como as instituições financeiras competem. “Não será necessário ter no celular um aplicativo para cada banco”, disse. “Veremos um único aplicativo que abrangerá todos os serviços financeiros e permitirá acessar mais produtos por um costumo inferior”.
Além disso, o ex-presidente do Banco Central mencionou os criptoativos, declarando que as “stablecoins”, que estão atreladas a ativos estáveis para mitigar a volatilidade, podem um dia ser incorporadas aos produtos financeiros oferecidos pelos bancos convencionais.
Segundo o economista, os bancos devem se transformar em plataformas globais, facilitando pagamentos internacionais de maneira eficaz. Esta transformação contribuirá ainda mais para a “disrupção” do modelo bancário que conhecemos hoje.
Campos Neto foi liberado para realizar palestras até o primeiro semestre de 2025, desde que não divulgue informações confidenciais adquiridas durante seu mandato no BC. Ele também deverá seguir um período de quarentena até junho, antes de poder assumir atividades no setor privado.