Após o susto provocado por um apagão que atingiu 12 milhões de chilenos por mais de oito horas, o governo de Gabriel Boric agora discute não apenas as responsabilidades do ocorrido, mas também a distribuição de energia e as implicações para as próximas eleições presidenciais.
A ministra do Interior, Carolina Tohá, já é considerada a candidata favorita do presidente Boric, embora sua confirmação oficial ocorra apenas em março. Ela tem se destacado como a figura que representa o governo em momentos críticos.
Tohá assumiu a função de porta-voz durante uma reunião de emergência realizada às 16h30 da terça-feira (25), aproximadamente uma hora após o início do apagão que afetou desde Arica, no norte do país, até Los Lagos, no sul.
Conforme informações do governo, foi da ministra a decisão de implementar um toque de recolher imediatamente, além de mobilizar forças armadas nas ruas e realizar várias comunicações ao longo do dia com a prefeita de Viña del Mar, Macarena Ripamonti, devido ao Festival de Viña.
O Festival de Viña del Mar é um dos principais eventos musicais da América Latina, destacando performances de artistas de países de língua espanhola e concedendo prêmios com base na votação do público presente, conhecido como “O Monstro”, que decide se as apresentações devem ser prolongadas ou encerradas. O festival ocorre anualmente desde 1960, tradicionalmente no final do verão chileno.
A programação da terceira noite do festival foi remarcada para sábado, mas o evento continuou na quarta-feira. Até as 20h30 de terça-feira, o governo fazia esforços para restabelecer a energia a fim de evitar o cancelamento do evento. A Quinta Vergara já estava aberta ao público, contando com geradores, mas havia preocupações com a segurança pública na área, que ainda estava sem eletricidade no momento.
A oposição chilena
Esse apagão acentuou ainda mais a queda na popularidade do governo Boric, levando a oposição a criticar o presidente, responsabilizando-o diretamente pela crise.
Os candidatos de extrema direita foram os primeiros a manifestar críticas contundentes. Johannes Kaiser, do Partido Nacional Libertário, fez comentários de teor LGBTfóbico, alegando que o governo iria restabelecer a energia com uma perspectiva de gênero, priorizando as minorias.
José Antonio Kast, do Partido Republicano, adotou um tom mais sério, mas ainda exagerado, afirmando que a resposta do governo foi lenta e que “o presidente passeando de helicóptero não adianta em nada”.
Evelyn Matthei, ex-prefeita de Providência e potencial candidata pela coligação Chile Vamos, teve uma abordagem mais moderada durante o apagão, optando por concentrar suas críticas na quarta-feira. Ela destacou a vulnerabilidade do sistema elétrico e a falta de investimentos do governo nessa área.
Investigações sobre o incidente
Com a energia restabelecida em todo o território nacional, o governo agora se dedica à investigação das causas do apagão nos próximos 15 dias. O presidente do Coordenador Elétrico Nacional, Juan Carlos Olmedo, iniciou auditorias nas instalações da ISA Interchile, a empresa responsável pelas linhas de transmissão que foram impactadas.
A concessionária colombiana informou que houve “uma desconexão no sistema de transmissão de 500 kV”, mas até o presente momento não forneceu detalhes sobre as causas do problema.