Certa vez, Yihai Cao, professor do Instituto Karolinska, na Suécia, estava dialogando com um estudante sobre um projeto de pesquisa. O aluno parecia indeciso sobre qual direção seguir em seu estudo, e Cao percebeu que ele estava consumindo uma bebida. “O que você está bebendo?”, perguntou o professor, recebendo a resposta de que era um refrigerante sem açúcar. “Por que você não examina essa bebida e investiga o efeito que isso tem nos vasos sanguíneos?”, foi a sugestão do professor.
Dessa forma, teve início um projeto voltado para investigar como os adoçantes artificiais podem influenciar a saúde vascular. Os resultados dessa pesquisa foram apresentados em um artigo publicado em fevereiro na revista científica Cell Metabolism. O estudo, que utilizou um modelo pré-clínico com camundongos, revelou que o aspartame, um adoçante amplamente encontrado em bebidas sem açúcar, elevou os níveis de insulina nos animais, o que foi associado à inflamação nos vasos sanguíneos.
A trajetória profissional de Cao é dedicada ao entendimento dos vasos sanguíneos, por isso seu interesse em explorar a ligação entre esses componentes e os adoçantes artificiais. Essas substâncias frequentemente suscitam debates no âmbito científico e médico. Em 2023, por exemplo, o aspartame foi classificado como possivelmente cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), um órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS).
No novo estudo, os pesquisadores testaram o aspartame em diferentes espécies de camundongos, incluindo uma que é especialmente vulnerável ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, as quais estão diretamente ligadas aos vasos sanguíneos.
Pesquisa
Um dos dados iniciais desse estudo indicou que, após a administração de uma dose de 0,15% de aspartame, os níveis de insulina nos animais aumentavam. Embora a insulina seja essencial para a redução do açúcar no sangue, o foco dos pesquisadores era investigar se, nesse contexto, essa hormona poderia provocar outros efeitos nos organismos dos camundongos.
Foi observado que, nesse caso, surgiam inflamações nos vasos sanguíneos dos animais. A análise revelou que as células endoteliais, que ficam na camada interna dos vasos e atuam como sensores, reagiam ao aumento dos níveis de insulina após a ingestão de aspartame.
Essa reação estava ligada à liberação de uma molécula conhecida como citocina inflamatória.
Uma parte dessas citocinas pode permanecer retida nos vasos sanguíneos e atrair outras células que passam por ali. Isso resulta em um acúmulo de substâncias nas paredes dos vasos, causando futuras complicações. Além disso, foram identificados outros problemas nos vasos dos camundongos, como acúmulo de lipídios.
Cao enfatiza que esse mecanismo não foi observado em seres humanos, uma vez que a pesquisa foi realizada unicamente com animais. No entanto, acredita que “um mecanismo similar pode existir em humanos”. A justificativa para essa crença, segundo ele, é que o estudo também utilizou dados e resultados parecidos obtidos em macacos, que têm uma biologia mais próxima à dos humanos.
O professor, que é especialista em vasos sanguíneos, acrescenta que os adoçantes artificiais podem afetar a saúde humana de diversas maneiras, e não apenas em relação à saúde cardiovascular.